quarta-feira, 18 de julho de 2012

MODA E VIRTUDE


Por S.S. Pio XII*

          "O movimento da moda não tem em si nada de mau: brota espontaneamente da sociabilidade humana, segundo o impulso que inclina a encontrar‑se em harmonia com os próprios semelhantes e com a prática usada pelas pessoas no meio em que se vive. Deus não pede que se viva fora do tempo, descurando as exigências da moda até tornar‑se ridículo, vestindo ao oposto dos gostos e dos usos comuns contemporâneos, sem se preocupar jamais com o que lhes agrada. Eis porque mesmo o Angélico Santo Tomás afirma que nas coisas exteriores que o homem usa não há vício algum, mas o vício vem da parte do homem que imoderadamente as usa, ou em confronto do costume daqueles com os quais vive, fazendo‑se estranhamente parte discorde dos outros por si mesmo ou usando das coisas, segundo o costume ou além do costume dos outros, com desordenado afeto, por superabundância de vestes soberbamente ornamentadas ou complacentemente procuradas com cuidado, enquanto que a humildade e a simplicidade seriam suficientes para satisfazer o necessário decoro. E o mesmo Santo Doutor chega até a dizer que na ornamentação feminina pode existir ato meritório de virtude, quando for conforme ao mundo, à medida da pessoa, à boa intenção, desde que as mulheres usem ornamentos decentes segundo o estado e a dignidade delas, e sejam moderadas naquilo que fazem de acordo com o costume da pátria: então, também o ornar‑se será um ato daquela virtude da modéstia, a qual põe regra no caminhar, no estar, no hábito e em todos os movimentos exteriores.

          "Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede é recordar sempre que a moda não é, nem pode ser a regra suprema da conduta; que acima da moda e de suas exigências existem leis mais altas, e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem ser sacrificados ao talante do prazer ou do capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber inclinar a sua fugaz onipotência. Estes princípios foram proclamdos por Deus, pela Igreja, pelos santos e pelas santas, pela razão, e pela Moral cristãs, assinalados limites, além dos quais não florescem lírios e rosas, nem pairam nuvens de perfumes da pureza, da modéstia, do decoro, e da honra feminina, mas aspira‑se e domina um ar malsão de leviandade, de linguagem dúbia, de vaidade audaz, de vanglória, não menos de espírito do que de traje. São aqueles princípios que Santo Tomás mostra para o ornamento feminino e recorda, quando ensina qual deve ser a ordem de nossa Caridade, de nossas afeições: o bem da própria alma deve preceder o do nosso corpo e, à vantagem de nosso próprio corpo, devemos preferir o bem da alma de nosso próximo. Não se vê, portanto, que há um limite que nenhuma idealizadora de modas pode fazer ultrapassar, a saber, aquele além do qual a moda se torna mãe de ruína para a alma própria e da dos outros?

          "Alguns jovens dirão, talvez, que uma determinada forma de vestido é mais cômoda e também mais higiênica; mas, se constitui para a saúde da alma um perigo grave e próximo, não é certamente higiênica para o espírito: tem‑se o dever de renunciar. A salvação da alma fez heroínas as mártires como Inês e Cecília, em meio dos tormentos, e lacerações de seus corpos virginais.

          "Se, por um simples prazer próprio, não se tem o direito de colocar em perigo a saúde física dos outros, não é talvez ainda menos lícito comprome­ter a saúde, até a própria vida de suas almas? Se, como pretendem alguns, uma moda audaz não faz sobre elas impressão alguma, que sabem da impressão que os outros terão? Quem lhes assegura que outros não tenham disto um incentivo mau? Não se conhece o fundo da fragilidade humana, nem de que sangue de corrupção sangram as feridas deixadas na natureza humana pela culpa de Adão com a ignorância no intelecto, com a malícia na vontade, com a ânsia do prazer e a debilidade para o bem, árduo nas paixões dos sentidos a tal ponto que o homem, como cera amoldável ao mal, "vê o melhor e o aprova, e ao pior se apega", por causa daquele peso que sempre, como chumbo, o arrasta para o fundo. Sobre isso justamente se observou que, se algumas cristãs suspeitassem das tentações e quedas que causam em outros com vestes, e familiaridades a que, em suas leviandades, dão tão pouca importância, teriam pavor de suas responsabilidades. Ao que Nós não duvidamos de acrescentar: ó mães cristãs, se soubésseis que futuro de perigos e íntimos desgostos, de dúvidas, e irreprimível rubor preparais para vossas filhas e filhos, com imprudência em acostuma‑los a viver apenas cobertos, fazendo deles desaparecer o sentido ingênuo da modéstia, vós mesmas enrubesceríeis, e vos horrorizaríeis pela vergonha que causareis a vós mesmas e o dano que ocasionareis aos filhos que vos foram confiados pelo Céu, para que crescessem cristãmente. E aquilo que dizemos para as mães, repetimo-lo a não poucas senhoras crentes e mesmo piedosas, que aceitam seguir esta ou aquela moda arrojada, e, com o seu exemplo, fazem cair as últimas hesitações que retêm uma turba de suas irmãs que estão longe daquela moda, a qual poder-se-á tornar para elas fonte de ruína espiritual. Até certos provocadores ornamentos permanecem triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e quase sinal que as faz reconhecer; não se ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas superiores a qualquer suspeitas, não se duvidará mais de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas."



     * Discurso às Delegações da Juventude Feminina de Ação Católica, 22 de maio de 1.941. Trecho do Livro: "Pio XII e Os Problemas do Mundo Moderno", Michael Chinigo, Editora Melhoramentos, 1.961.

Fonte: Congregação Mariana Tradicional

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