quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Educação e Santificação



Por Pe. John D. Fullerton

Traduzido por Andrea Patrícia


Ter a melhor educação ou formação é uma preocupação não só para os nossos diretores e professores, mas também para os nossos pais, que têm essa obrigação primordial na criação dos filhos. E isso não concerne apenas aos pais. De muitas maneiras a formação dos jovens diz respeito a todos nós. Estas crianças vão um dia ser adultos e assumir sua parte na sociedade onde eles vão ajudar ou prejudicar o bem comum. Se eles não forem ensinados a formar a si mesmos, que é a tarefa da educação, como eles vão continuar a auto-formação necessária para ter uma vida boa?

Assim, é bom para todos nós, ocasionalmente, tirar alguns momentos e considerar algumas questões importantes que dizem respeito a todo o esquema de formação ou de auto-formação. Quais são os resultados que queremos a nossa formação produza? Que materiais estão disponíveis para produzir o resultado? E como podemos lidar melhor com o material para trazer o resultado?

O resultado que queremos da nossa formação é, dentro ou fora da escola, homens e mulheres de caráter nobre e melhor possível de acordo com a capacidade e as circunstâncias. A formação adequada pretende produzir homens e mulheres cujas vidas são dominadas por princípios bons, profundamente enraizados na mente e elevados em padrões de julgamento, gosto, sentimento, ação, e que são constantemente referidos ao longo da vida. Para fazer isso um desenvolvimento global do conhecimento, inteligência, julgamento, retidão moral e religioso, força e resistência, energia e iniciativa, refinamento e cultura é necessário. Tais vidas, com base em bons princípios, serão bastante distintas daquelas dominadas por meros impulsos interiores e circunstâncias de fora. Nós só precisamos olhar em volta ou até mesmo para dentro para ver como as vidas dominadas por esses impulsos e as circunstâncias criam qualquer coisa menos homens e mulheres de virtude.


Assim, precisamos colocar diante de nossos filhos os mais nobres ideais, com uma subordinação adequada, para corretamente construir neles o mais nobre caráter e fazer justiça a tudo o que vá aperfeiçoá-los. Para fazer isso, precisamos ter uma base sólida de virtude natural. A Graça constrói sobre a natureza e assim este fundamento do caráter deve ser firmemente estabelecido para apoiar a construção que fica em cima dele.

Como a base sólida está sendo estabelecida, já podemos começar a construir e fazemo-lo com os ideais Cristãos ou virtudes sobrenaturais que aperfeiçoam e elevam as virtudes naturais a um plano superior para que a criança seja capaz de viver em harmonia com a vontade de Deus.

Para terminar nosso prédio, tudo o que resta é a de adicionar as guarnições. Estes enfeites, quando se fala de caráter, são as diversas outras qualidades físicas, mentais e práticas, que desenvolvem o corpo e a mente (por exemplo, o conhecimento, julgamento, costumes, gostos, saúde e todo o tipo possível de atividade, quer seja de negócios ou lazer). Assim, procuramos produzir verdadeiros senhores e senhoras Cristãos com completa capacidade que para o resto de suas vidas atuarão de acordo com os princípios católicos incutidos neles.

Todo tipo de formação contribui para a precisão da observação e julgamento, a sensatez de ação e contenção em questões morais. Aquele que é ensinado a agir com princípios sólidos sobre as coisas em um nível natural, também vai adquirir maior facilidade em proceder com princípios sólidos nessas coisas que dizem respeito à salvação de sua alma. O desenvolvimento natural pode, é verdade, ser acompanhado por negligência do desenvolvimento espiritual e assim perder todo o valor mais alto. Mas, dado que o desenvolvimento espiritual não seja negligenciado, ele certamente não será impedido, mas ajudado por todas as formas de desenvolvimento natural.

Na formação, devemos considerar também o material que temos disponível para trabalhar e a partir do qual esperamos produzir o resultado desejado. À medida que o homem desde a infância até a meninice, em seguida, à adolescência e, finalmente, para a idade adulta, ele passa por diferentes estágios de desenvolvimento. Em cada fase, ele alcança um nível de desenvolvimento que nos dá o material certo para trabalhar. A principal preocupação dos pais de um bebê indefeso recém-nascido é que comida e descanso sejam fornecidos satisfatoriamente. Enquanto o bebê cresce na infância, o início do julgamento e vontade são manifestos nas observações da criança e em seus impulsos. Qual pai não teve a pergunta “Porquê?” feita pelo seu pequenino de dois ou três anos?

Ao passo em que a criança se desenvolve na fase de infância, há uma consciência do poder de escolha, o seu uso adequado e o dever de fazer a escolha certa. Aqui, a formação deve incidir sobre o intelecto e a vontade. Na formação dos jovens este é o ponto de ruptura real. Aqui o menino deve ser considerado como um homem incipiente e a menina como uma mulher incipiente e, portanto, as oportunidades devem ser dadas para ele ou ela desenvolver governando com os métodos de adultos, tanto quanto eles são capazes e não com métodos criança. Motivos de prazer e dor, recompensa e punição, ou a vontade do pai deve ser substituídos pela ideia do dever, que deve ser elevada novamente no serviço pessoal a Deus, e isso não apenas por medo, mas por amor. A conduta ética, portanto, será colocada em uma base sólida de princípios religiosos e estes devem ser cultivados até que se tornem hábito.

No processo de formação, mais uma vez, vamos ter em mente que toda a formação real é auto-formação, não temos poder de forçar a vontade. O sucesso só será alcançado na medida em que pode induzir a criança a tomar a sua própria auto-formação na mão de acordo com as linhas estabelecidas para ele. Para isso, é importante que nós assistamos o desenvolvimento de cada criança para que não segurá-la, nem forçá-la muito rapidamente.

Finalmente, o meio ou método para produzir o resultado desejado da nossa formação deve ser considerado. Esses métodos devem consistir em remover obstáculos e oferecer oportunidades, bem como proporcionar estímulos onde o desenvolvimento é deficiente e impor restrições onde é excessivo até que a criança seja capaz de fazê-lo por si mesmo.

O primeiro meio que podemos considerar é a formação do intelecto, também conhecido como instrução. Quer seja formal, como nas tarefas sistematicamente impostas, ou informal resultante da interação de coisas tais como passeios, conversa ou leitura, a instrução diz respeito à comunicação entre os intelectos do professor e do aluno, a fim de transmitir pensamentos e fatos.

Há também a formação da vontade, conhecida como disciplina. A disciplina é capaz de instigar e direcionar as ações e, assim, impor princípios, e, como instrução, também tem partes formais e informais. Regras e regulamentos compõem o que chamamos de disciplina formal, enquanto disciplina informal, que é tão importante, vem da sugestão em vez da lei e é derivada do tom do círculo familiar ou na escola em que a criança vive.

Um meio final a considerar, para a produção de caráter, é a influência ou exemplo de pessoas. O exemplo cobre toda a base de instrução e disciplina e é um fator de influência mais potente do que os outros dois. A razão para isto é que os seres humanos, especialmente na infância, têm um instinto natural de imitação. As possibilidades de realização são reveladas pelo exemplo assim animando nossas aspirações e ajudando a formar os nossos ideais e concentrar nossas energias para uma linha definida de auto-desenvolvimento.

Este esquema, como eu disse, se aplica a qualquer formação. Infelizmente, no mundo moderno de hoje o resultado material e os meios foram alterados. O resultado procurado hoje são homens e mulheres que serão úteis à nossa sociedade industrial, capazes de fazer dinheiro ou poder contribuir para os prazeres mais procurados.

Quanto ao material, os educadores modernos tentam forçá-lo para caber neste mesmo molde utilitário. Em vez de uma educação completa, dada de acordo com os estágios normais de desenvolvimento do homem, eles tentam forçar uma educação especializada sobre as crianças antes de estarem prontas. As crianças – como vasos de barro – devem ser moldadas de forma lenta e deve ser dado tempo para secar antes de atear fogo, caso contrário elas vão (e isso tem acontecido) tornar-se deformadas ou queimadas quando colocadas no fogo, sendo incapazes de lidar com a pressão.

Os meios sofreram ataque ainda maior. Os educadores modernos dizem que a instrução entre dois intelectos não é mais necessária. As crianças podem ensinar-se ou máquinas podem melhor formá-los. Disciplina ou formação da vontade, o que é isso? E os ícones de imitação hoje são homens e mulheres dominados por impulsos ou circunstâncias que procuram ajustar o resultado subjetivo da sociedade utilitarista.

Como católicos, nós sabemos o resultado esperado de nós: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. Também sabemos muito bem como são defeituosos os materiais e os meios que temos para trabalhar. Mas muitas vezes nós caímos vítimas do pensamento errôneo do mundo moderno, fazendo mau uso desses materiais ou destruindo os meios adequados. No entanto, não é tarde demais para nós para mudar a tendência. Para garantir que nossos filhos tenham uma educação adequada todos nós devemos fazer a nossa parte. Para a maioria de nós, como adultos, isso pode ser feito simplesmente por levar a nossa própria auto-formação a sério. Vamos começar com a instrução apropriada e auto-disciplina. Então, o nosso exemplo vai dar a nossa juventude algo para mirar para e vamos todos trabalhar em busca da perfeição que Deus demanda de nós.

Fonte: Maria Rosa

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