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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O traje, espelho de uma época?

Por Bruno Garschagen

Ler os grandes intelectuais do passado é constatar a degradação do presente. Tendemos a perceber essa degradação nos hábitos e nos comportamentos que mais nos chocam, mas há um elemento fundamental que passa quase sempre despercebido: o vestuário. Plinio Corrêa de Oliveira, hoje quase esquecido, escreveu em 1952 um artigo irretocável sobre “O traje, espelho de uma época”. Num trecho do texto, Plinio extraiu da vestimenta seu elemento imaterial, pois que “de um ponto de vista meramente material”, o traje ao corpo presta somente o serviço de agasalhá-lo ou de “proteger um certo pudor que brota das profundezas do instinto”. Na certeza de que “o homem não é só matéria”, a vestimenta “deve também prestar serviço ao espírito”.

Como? “Por uma propriedade que não é apenas convencional ou imaginativa, mas que crava raízes no âmago da realidade, certas formas, certas cores, as qualidades de certos tecidos, produzem no homem determinadas impressões, que são mais ou menos as mesmas para todos os homens” . Essas impressões, salientou Plinio, produzem nos homens “estados de espírito, atitudes mentais, em certos casos todo um pendor da personalidade”. E é dessa maneira que “pode o homem, por meio do traje, exprimir até certo ponto sua personalidade moral, o que facilmente se pode notar no vestuário feminino, tão apto a espelhar o feitio mental da mulher”.

Dizia eu, porém, acerca do elemento imaterial do traje convocado por Plinio. E ele o faz ao certificar que “quando uma época se preocupa em elevar o homem, é sedenta de dignidade, de grandeza, de seriedade, dispõe o vestuário – comum ou profissional – de maneira a acentuar em cada pessoa a impressão desses valores”. E sim, “será ou tenderá a ser nobre, digno, varonil, o traje de todo homem, desde o soberano até o último plebeu”, como “se nota nos trajes antigos”. O que nos diz a nossa época se analisarmos como nós, brasileiros, nos vestimos?

O que vou dizer agora pode soar um tanto excêntrico e, para alguns, mesmo ofensivo: o brasileiro não se veste, limita-se a cobrir o corpo com as roupas que tiver. Assim revela sua falta de modos, seu despudor estético e uma incompreensão absoluta sobre aquilo que transmite quando usa tênis em celebrações, mesmo em aniversários de infantes ou de imberbes. Inexiste no brasileiro médio, de qualquer classe social, um sentido estético. A roupa é a evidência mais pública dessa ausência de acuidade. Não há nem sentido estético nem a compreensão de que as vestes transmitem dignidade, grandeza, valores, enfim.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Terno: o guia definitivo

Todo homem deve ter um bom terno. Seu primeiro terno deve ser um cinza, pois é uma cor versátil, que vai bem tanto de dia, quanto de noite, em ocasiões formais ou informais. Também é mais fácil fazer a combinação de camisa e gravata com ele. Em seguida, compre um azul marinho, que também vai bem de dia ou de noite e em ocasiões formais ou informais.

O terno preto é mais formal e, por ser mais austero, é ideal para a noite.

Diferenciação entre terno e costume

O terno é o trio composto de paletó, calça e colete. Já o costume é composto apenas da calça e do paletó. Ambas as opções são válidas para eventos onde se pede tal roupa. No entanto, o terno é mais formal.

Dicas ao comprar o terno/costume:
Para o paletó:
- Ombros lisos – sem costuras repuxadas ou ondulações;
- A gola deve assentar no pescoço;
- As mangas do paletó não devem cubrir suas mãos;
- O comprimento correto do paletó é que ele cubra seu traseiro;
- A manga da camisa deve ficar 1 centímetro aparecendo por baixo do paletó;
- O último botão do paletó deve sempre estar desabotoado – facilita na hora de se assentar e ao locomover-se;
- Paletós de dois botões são ideias para pessoas mais baixas, pois aumenta o “V” que é formado ao abotoar o paletó, alongando a silhueta.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sim, o hábito faz o monge, mostra pequisa

Por Juliana Câmara

Estudo americano comprova que significado social das peças que vestimos interfere nos processos cerebrais

O antigo ditado que nos orienta sobre não julgar as pessoas pela aparência acaba de ser contrariado por um estudo americano, pelo menos no que diz repeito às roupas. Cientistas descobriram que a forma como interpretamos o valor simbólico da vestimenta pode afetar nossos processos cognitivos. E o estudo, realizado por pesquisadores da Northwestern University, em Illinois, mostra que não basta olhar uma peça para que esta influência ocorra, é preciso vesti-la.
Os pesquisadores, liderados por Adam Galinsky, realizaram três experiências usando jalecos brancos idênticos de médicos e pintores. Em todos os casos, as pessoas que vestiram as peças que seriam dos profissionais de saúde — a quem costuma ser atribuído um comportamento cuidadoso, rigoroso e atento — apresentaram melhores resultados em testes de atenção e percepção visual de erros. Houve quem apenas olhasse a roupa, mas quem a vestiu se saiu melhor.
A descoberta, que foi relatada em reportagem do jornal “New York Times”, é significativa para uma área de estudos em crescimento, chamada de cognição incorporada.
— Pensamos não apenas com nossos cérebros, mas com nossos corpos, e nossos processos de pensamento estão baseados em experiências físicas que provocam conceitos associados abstratos. Agora, parece que estas experiências incluem as roupas que vestimos — explicou Galinsky ao NYT. — A experiência de lavar as mãos, por exemplo, está associada à pureza moral e a julgamento éticos.
Para os cientistas, um dos pontos mais interessante do estudo é a possibilidade de compreender se o significado da roupa que vestimos afeta nossos processos psicológicos: ele altera a forma como nos aproximamos e interagimos com o mundo? Na opinião do psicólogo e autor do livro “Homens invisíveis” (Editora Globo), Fernando Braga da Costa, a resposta é sim:
— Tudo o que é intelectual é guiado também pelo nosso equilíbrio emocional. Além disso, o que controla nossas vias neurológicas está relacionado com nossas emoções, cuja construção passa pelos relacionamentos e a concepção de valores sociais.
Os pesquisadores americanos agora querem entender o que acontece quando alguém veste uma batina de padre ou um uniforme de policial todos os dias, por exemplo. A ideia é desvendar se os indivíduos se acostumam e as alterações cognitivas não ocorrem, fazendo os efeitos desaparecerem. Para isso, no entanto, mais estudos ainda serão conduzidos.

Jornal O Globo.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alfaiates num mundo de luxo que escapa à crise global


Estudo inédito do IPAM-Aveiro traça o retrato dos guardiães da arte do bem-vestir em Portugal. Poder económico não gera tantos clientes comoa tradição familiar ou o gosto pela exclusividade

Haverá um mundo de alfaiates por esse país fora, em cubículos e pequenas oficinas, mas um inédito estudo, apresentado hoje em Aveiro, centra-se no luxo. E esse, em plena crise, está de boa saúde.

Trabalham no território da perfeição. Ao centímetro. Não à fração de milímetro, como um relojoeiro, nem com a tremenda responsabilidade de um cirurgião, mas ufanos do que fazem, arquitetos do bem vestir. Os alfaiates, que, como demonstram investigadores do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), servem quem vive sobre as nuvens que sobre os restantes mortais despejam o temporal da crise.

O Anuário de Alfaiataria 2013, resultante de trabalho no terreno feito de outubro do ano passado a maio último, é apresentado como uma homenagem a estes artesãos, mas representa, sobretudo, uma ajuda à reafirmação da atividade, que alguns consideram distintiva por estar em vias de extinção, mas que, afinal, apresenta sinais de perenidade.

sábado, 6 de abril de 2013

Carta ao alfaiate Sturmm


"O casaco serve para tornar o homem apresentável e viável através das ocupações sociais".
“Meu bom Sturmm, a sua sobrecasaca é perfeitamente insensata. Ali a tenho, arejando à janela, às costas de uma cadeira. E assenta tão bem nestas costas de pau como assentaria nas do comandante das Guardas Municipais, nas do Patriarca, nas de um piloto da barra, ou nas de um filósofo, se houvesse nestes reinos”.
“Quero pois severamente dizer-lhe que ela não possui individualidade. Se você, bom Sturmm, fosse apenas um algibebe [vendedor de ternos já prontos], embrulhando a multidão em pano sedan para tapar a nudez, eu não faria à sua obra esta crítica tão alta e exigente. Mas você é alemão, e de Konisgberg cidade metafísica. A sua tesoura tem parentesco com a pena de Emanuel Kant, e legitimamente me surpreende que você não a use com a mesma sagacidade psicológica.
“Não ignora V., decerto, que ao lado da filosofia da história e de outras filosofias, há ainda mais uma, importante e vasta, que se chama a filosofia do vestuário; e menos ignora, decerto, que aí se aprende, entre tanta coisa profunda, esta, de superior profundidade: que o casaco está para o homem como a palavra está para a idéia”.
“Ora, para que serve a palavra, Sturmm? Para tornar a idéia perceptível e transmissível nas relações humanas – como o casaco serve para tornar o homem apresentável e viável através das ocupações sociais”.
“Mas é a palavra empregada sempre em rigorosa concordância de valor com a idéia? Não, meu Sturmm. Quando a idéia é aborrecida e trivial, ateia-se, revestindo-a de palavras gordas e aparatosas – como as que se usam na política. Quando a idéia é grosseira ou bestial, embeleza-se e poetiza-se, recobrindo-se de palavras macias, afagantes, canoras – como todas as que se usam nos romances”.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Alfaiataria



Por  G. Bruce Boyer

O conhecimento e a arte da Alfaiataria , do acto de cortar e coser tecido , desenvolveu-se lenta e gradualmente na Europa entre os séculos XII e XIV.
Durante a Idade Média, a roupa em geral encontrava-se associada ao acto de esconder o corpo. Com a Renascença, vem o acentuar da forma humana. A roupa larga e sem forma, aquele que foi o uniforme padrão de todo o Período Medieval, tão fácilmente construído de uma ou duas peças de pano, foi encurtado e apertado, eventualmente cortado, montado e cosido, na tentativa de dar destaque aos contornos do corpo humano. Este foi o nascimento da Alfaiataria e, de facto, da Moda .
Até esta altura o pano tinha sido a característica que distinguia o vestuário, e aquele que o vestia era, em grande parte, o reponsável pelo design e, na maioria dos casos,pela produção das suas próprias roupas. Mas, gradualmente, o alfaiate foi assumindo uma importância equivalente á do tecelão, chegando por fim a ultrapassá-lo. Mestres alfaiates tornaram-se responsáveis por satisfazer as necessidades de vestuário da sociedade, e a alfaiataria tornou-se numa altamente especializada, complexa e ciosamente guardada arte.
À medida que as cidades foram crescrendo, tornando-se impérios de poder, também a moda seguiu esse caminho. Primeiro Itália, depois Espanha e França tornaram-se centros de Moda em consonância com o poder, riqueza e influência desses impérios. A Itália atingiu o seu grande florescimento durante a idade de Miguel Angelo, seguida por Espanha, no princípio do século XVII. A França atingiu o topo da moda durante o reinado de Luis XIV (1643-1715), quando os jovens bem-vestidos de toda a Europa se afadigavam em Paris, para a renovação do seu guarda-roupa. A meio do século XVII os homens desistiram de usar o "doublet" (casaco assertoada e apertado), o "Hose" (peça de vestuário usada com o doublet e que consistia numa meia-calça que chegava até á cintura) e a "cloak" (capa), tendo começado a usar casaco , colete e "breeches" (calças que terminavam normalmente acima do joelho), as 3 peças de vestuário que podemos começar a identificar com a forma de vestir actual. Do outro lado do canal da Mancha, os Ingleses não só tinham abandonado o "doublet" e a "hose", como ultrapassaram rápidamente a fase da roupa ricamente bordada "decretada" pela corte Francesa. Note-se que tinham conseguido sobreviver uma guerra civil amarga, mas democratizante (l642 - 1649), a qual entre outras coisas tinha posto em questão os veludos e brocados, as sedas e os cetins, as cabeleiras empoadas, entre outras ostentações do código de vestuário da aristocracia Francesa. Dois séculos mais tarde, Oscar Wilde, diria que os Puritanos e os cavaleiros que lutaram essa guerra, estavam mais interessados nos seus hábitos, que nas suas convicções morais.