segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alfaiates num mundo de luxo que escapa à crise global


Estudo inédito do IPAM-Aveiro traça o retrato dos guardiães da arte do bem-vestir em Portugal. Poder económico não gera tantos clientes comoa tradição familiar ou o gosto pela exclusividade

Haverá um mundo de alfaiates por esse país fora, em cubículos e pequenas oficinas, mas um inédito estudo, apresentado hoje em Aveiro, centra-se no luxo. E esse, em plena crise, está de boa saúde.

Trabalham no território da perfeição. Ao centímetro. Não à fração de milímetro, como um relojoeiro, nem com a tremenda responsabilidade de um cirurgião, mas ufanos do que fazem, arquitetos do bem vestir. Os alfaiates, que, como demonstram investigadores do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), servem quem vive sobre as nuvens que sobre os restantes mortais despejam o temporal da crise.

O Anuário de Alfaiataria 2013, resultante de trabalho no terreno feito de outubro do ano passado a maio último, é apresentado como uma homenagem a estes artesãos, mas representa, sobretudo, uma ajuda à reafirmação da atividade, que alguns consideram distintiva por estar em vias de extinção, mas que, afinal, apresenta sinais de perenidade.



Notando que "o mercado do luxo cresce tipicamente em contraciclo", os autores do trabalho deixam claro que ter dinheiro não é o fator decisivo para recorrer aos serviços de um alfaiate (há roupas mais caras que podem usar-se, ostentando a marca): "A qualidade superior, a exclusividade, a estética e vestir bem, o status, a usabilidade, a satisfação e o prazer, a segurança e confiança, e a tradição familiar são o vocabulário dos clientes dos alfaiates".

Ouvidos 18 alfaiates (Aveiro, Lisboa e Porto), verifica-se, porém, que não falamos de roupa para remediados (o preço médio de um fato estará na casa dos 500 euros, valor que pode ser multiplicado várias vezes, em função da qualidade dos tecidos), exceto para os que, valorizando os tais valores tradicionais que perfilham, vejam na confeção personalizada de vestuário uma prioridade. Falamos de pessoas que vão, grosso, modo, dos 25 aos 90 anos, mas, maioritariamente, acima dos 45 anos de idade.

Os próprios alfaiates, embora pouco confortáveis com a ideia de prestarem um serviço de luxo, salientam os grupos profissionais que mais servem com orgulho, dado o estatuto que, em Portugal, ainda vai sendo conferido por uma simples qualificação académica. Mas, no topo dos clientes de alfaiates, está um grupo profissional que não o é na essência, embora a prática desminta tais coisas: os políticos

Fonte: Jornal de Notícias

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