Dizia o filósofo britânico G. K. Chesterton que não é o álcool que degrada o homem, mas, ao contrário, é o homem quem degrada a bebida. De fato, é o mau uso (o abuso) que se faz da bebida alcóolica o que determina um dependente do álcool. Nunca vi copos de cerveja com vida própria, se insinuando para os seres humanos e colocando-se em suas bocas. Também nunca vi um cigarro tocando a campainha da casa das pessoas e pedindo para ser fumado. É por iniciativa nossa que consumimos álcool ou tabaco. Porém, me desculpem os puritanos, o uso moderado destas substâncias definitivamente não constitui pecado.
Há alguns meses o blog O Catequista publicou um artigo abordando justamente este tema; e foi lembrado um ponto particularmente importante para esta reflexão. Foi o próprio Jesus Cristo quem realizou o milagre de transformar a água em vinho nas bodas de Caná (cf. Jo 2, 1-12)! O próprio Senhor tratou de oferecer aos convidados da festa uma bebida alcoólica. Convenhamos: “Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém” (Tg 1, 13). Então, como beber vinho – ou qualquer outra bebida com álcool – pode ser um ato pecaminoso?
É claro que existe uma óbvia diferença entre o consumo do álcool, ou do tabaco, e o abuso destas substâncias. Por isso, a Igreja se vê obrigada a advertir:
“A virtude da temperança leva a evitar toda a espécie de excessos, o abuso da comida, da bebida, do tabaco e dos medicamentos. Aqueles que, em estado de embriaguez ou por gosto imoderado da velocidade, põem em risco a segurança dos outros e a sua própria, nas estradas, no mar ou no ar, tornam-se gravemente culpados.”
- Catecismo da Igreja Católica, § 2290
Está claro que uma pessoa que está dirigindo embriagada coloca em risco a sua vida e também a de outrem. Quem abusa do álcool pode enfrentar situações muito embaraçosas, acontecendo mesmo de que não se lembre do que fez enquanto estava sob o efeito da substância. Aí está um problema particularmente grave. Cabem, neste ponto, as sempre atuais considerações do Compêndio de Teologia Moral do pe. Teodoro Del Greco, sobre o pecado da gula.
“À gula se referem a intemperança no beber até à perda do uso da razão (embriaguez), a qual, se é perfeita, isto é, se chega a impedir completamente o uso da razão, é pecado mortal “ex genere suo”, se causada sem motivo suficiente.”
“Por graves razões, provavelmente, pode permitir-se a embriaguez, como por exemplo, para curar uma doença ou para com mais segurança submeter-se alguém a uma operação cirúrgica. Afastar a melancolia não é motivo suficiente para embriagar-se. A embriaguez que priva só parcialmente do uso da razão (imperfeita) é somente pecado venial, mas poderia tornar-se mortal pelo dano ou escândalo produzido, pela tristeza que poderia causar aos pais, etc.”
[Compêndio de Teologia Moral, Del Greco;
edição em PDF, pp. 56-57]
A Igreja é bastante criteriosa ao tratar estes assuntos, mas está bem claro que beber uma cerveja com os amigos no fim de semana não é pecado algum. Constituiria pecado o seu abuso, mas não o seu uso moderado – o que pressupõe que coloquemos em prática a virtude da temperança. Podemos encontrar muitos grupos de alcoólicos anônimos patrocinados por movimentos católicos, mas certamente não encontraremos uma só linha do Catecismo que condene o consumo de álcool – ou mesmo de tabaco. Muita gente dentro da própria Igreja precisa aprender isso. Qualquer tentativa de demonizar um copo de vinho – ou de cerveja, que seja – é mera tagarelice puritana. Não é doutrina católica.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: /Ecclesia Una
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