(LE COMBAT DE LA PURETÉ)
PELO PE. J. HOORNAERT, S.J.
17.ª Arma: a vontade
Neste nosso século de moleza e de comodidades, em que os moços, com um tostão, poupam-se a fadiga de cem metros de caminho que deveriam fazer a pé, tomando os carros elétricos, ou o ascensor, para evitar a subida de quarenta degraus, não será demasiado insistir sobre a grande importância da vontade.
Multíplices são as causas que enervam a sensibilidade.
Muito poucas as que contribuem para tornar viril o jovem, dando-lhe a verdadeira robustez.
A sólida formação do carácter e a educação geral da vontade, é que se deveria ter em vista, para toda e qualquer formação dos jovens.
Que fazer de todos esses abúlicos, desses anêmicos, cujo sangue parece carecer de glóbulos vermelhos e abundar de leucócitos?
Convencei-vos de que o menino mais disciplinado, o que tivesse maiores prêmios no colégio e fosse mesmo presidente de Congregação e conquistasse, cada ano, o primeiro prêmio de comportamento, estaria terrivelmente exposto a fraquear, se lhe falhasse a vontade.
Não é verdade? A pureza, sendo uma luta, exige lutadores e não, para repetir uma celebre expressão, “franguinhos piedosos”. São delicadinhos e ternos os frangos, mas, não vedes? que papel desempenham nos combates?!…
Não basta ser alguém ajuizado, é necessário que seja também enérgico e até ardente, pois “nada se faz de grande, sem as paixões”; e para se vingar em qualquer empresa, “é necessário ter o diabo no corpo”. (Tocqueville).
Retomemos, por alguns instantes, o assunto das leituras, encarado sob este aspecto, de que nos ocupamos: o da vontade.
Evita, caro amigo, as leituras lânguidas, como as daquele de quem J. Lemaître dizia: “Exala-se de sua obra um sortilégio, um malefício, uma languidez mortal”.
Lê, pelo contrario, a vida de um homem enérgico. Toma parte de seu magnetismo, ou como se diria em física; entra em seu “campo de indução”.
Os nossos esforços pessoais nem sempre bastam para fortificar o nosso carácter, o exemplo de outrem ser-te-á sempre de auxílio.
Além da autossugestão pratica também a heterossugestão.
“Apontai-nos, pedem nossos jovens, alguns bons livros que se possam retemperar o nosso carácter”.
Eis aqui bom número deles:
Desers: Cartas a um jovem sobre a virilidade do carácter.
Gillet: A educação do carácter: O medo do esforço intelectual: A virilidade cristã.
Autin Albert: Autoridade e disciplina em matéria de educação.
Duprat: A educação da vontade e das faculdades lógicas.
Payot: O trabalho intelectual e a vontade.
Ollé-Láprune: O valor da vida.
Perreyve Henri: Cartas do Pe. Lacordaire aos jovens.
Charruau: As armas! Conselho sobre o modo de vencer as tentações.
Noble: O Pe. Lacordaire apóstolo e diretor dos moços.
Lerás com fruto o Esforço, esse jornal para moços, de título tão significativo e bem idealizado.
A coleção Almas heroicas, publicada pela ação católica, em Bruxelas.
Gust. Daumas: Para a formação de uma elite.
Beaupin: Para ser apóstolo.
Guibert: O carácter, Pureza, etc.
Ginon: Formação do carácter.
A. Eymieu: O governo de si mesmo.
Ribot: As doenças da vontade.
R. Bazin: Os homens de amanhã. A ideia principal acha-se expressa, desde a primeira página. “Os empreendedores de festas… multiplicam as estátuas de bronze: preferia que os caracteres fossem deste metal!”
* * *
Caros jovens, qual pensais vem a ser o fim que temos em vista, em nossos colégios?
Acha-se muito bem expressado nas duas seguintes afirmações: a do Cardeal Fleury ao terminar a educação do jovem Luiz XV, declarando-lhe: “Tudo o que eu procurei fazer-vos foi tornar-me eu inútil!”, e a do Bispo Dupanloup, ao concluir um seu tratado pedagógico, com esta ponderação: “O que faz o mestre é nada, o que ele faz praticar, é tudo”.
É o nosso papel na vossa formação: esforçamo-nos por adestrar-vos a lutardes, por vós mesmos.
Por vós mesmos: porquanto não estaremos sempre ao pé de vós, para vos amparar.
Por vós mesmos: porque, afinal, é cada um que se salva a si mesmo.
Não é o vosso confessor que vos salva.
Um pobre negro de Congo, embora distante dos sacerdotes, salvará sua alma, se for generoso.
Um penitente do santo Cura d’Ars, não perde nunca a potência de se condenar.
Não é o vosso diretor espiritual quem vos salva nem o vosso pregador.
Eles o que fazem é apontar-vos o caminho: são, digamos assim, como postes indicadores do caminho do céu. Mas de que serve o melhor poste indicador, que muito bem aponta o roteiro, se o viandante não tem a coragem de seguir por esse caminho? O poste indica mas não saí de seu sítio.
Não é a Virgem nem os santos que vos salvam.
Eles incitam-vos ao bem mas a ninguém forçam.
São magníficos guias. Mas se o que tiver o melhor guia, o não seguir, de que servirá tê-lo?
Nem mesmo o próprio Deus somente, pois, “Deus que vos criou sem vós, vos não salvará sem vós”. (Sto. Agost.).
Podem recomendar-vos a virtude mas, em suma, a vós toca praticá-la.
Ninguém vos dispensa do esforço e de um “trabalho individual”, que não admite substituto algum.
Sto. Inácio a quem injustamente acusam de haver substituído a iniciativa pessoal, por métodos e fórmulas, começa os Exercícios espirituais por notar: ser necessário “se exercere”, exercitar-se a si mesmo. É tão radicalmente impossível o querer, em vosso lugar, como o nutrir-se alguém, por vós.
* * *
Praticai, vós mesmos, o bem.
A virtude não é coisa extrínseca, mas intrínseca.
O que quer dizer isso?
A guarda da pureza não pode limitar-se a uma precaução exterior, com o suprimir simplesmente as ocasiões perigosas.
Não há dúvida que a vigilância nos bons colégios, procura afastar de vós, caros jovens, o que poderia ser causa de tentações. É de elementar prudência.
Mas se contentarmos só com isso, o nosso sistema de educação, seria utópico e falho. Porque enfim, logo à noite, encontrareis fatalmente solicitações libidinosas, ao sairdes do colégio para irdes às vossas casas: serão cartazes de cinemas, exposição de fotografias, cartões postais, pinturas, estátuas pouco friorentas, pares amorosos, encontros nas rodas escolares, etc.
Suponhamos que sois internos e que assim vos livrais das tentações, pela volta quotidiana aos vossos lares; em todo o caso lá virão as férias e tudo o que elas trazem consigo: desocupação, o campo com seus costumes menos recatados, estações de banhos ou os lugares de folguedos da gente cosmopolita, ares de mar (e o que hoje por lá aparece!).
E além disto, ou internos ou não, depois do vosso curso, tereis que deixar o colégio.
Se vos encerraram numa estufa demasiado quente, é sempre perigosa a brusca passagem para o ar livre de fora, pois vos exporiam a incômodas pleurisias e a pneumonias mortais.
Sem cessar, nós nos esforçamos por preservar-vos dos perigos da alma, é de elementar obrigação nossa; mas afinal, como os encontrareis cedo ou tarde e até vivereis no meio deles, o principal cuidado há de consistir em vos armar bem.
O inimigo estará vigilante, mas tereis então armazenada, em vós, a necessária força de resistência.[1]
* * *
“Vita est motus ab intrinsco”. A vida é o movimento vindo, não de fora, mas de dentro; é um movimento imanente.
Deveis ter, em vós mesmos, um princípio interior de reação.
A vitória não depende unicamente das causas exteriores, pois que, ao contrário, as circunstâncias poderão ser antes incitamentos ao mal; nem depende das pessoas, porquanto ninguém vos poderá substituir na luta.
Vós mesmos é que deveis resistir e ter, na melhor aceitação da palavra, vossa “fiscalização autônoma”.
Reparai que sempre trazemos conosco o nosso fundo de generosidade ou de covardia: “Tudo é puro para os que são puros, mas para os que estão maculados… nada é puro, ao contrário, o seu espírito está manchado”. (Ep. a Tit. 1-15).
O moço frágil sucumbe no seio da família a mais piedosa, nos meios os mais virtuosos.
E, pelo contrário, um jovem pode permanecer casto nos meios mais deletérios. Será forte se compreendeu bem as noções do dever, do pecado mortal, se tiver sólidas convicções acerca do céu, do inferno, do amor de Jesus Cristo por nossas almas imortais.
A Vida do Pe. Ravignan, fala de uma jovem atriz que, passara vários anos nos teatros, guardando, porém, irrepreensível conduta. Obrigada, pela força das circunstâncias a viver em condições, mui pouco favoráveis à virtude, tinha procurado, pela boa vontade e pela oração, não ceder às tentações que a assaltavam.
Tudo o que dissemos pode resumir-se em duas palavras: a vitória não consiste no fato extrínseco e negativo de que a tentação desapareça (é, infelizmente, impossível), mas no fato intrínseco e positivo de se possuir, em si mesmo, uma fonte de fortaleza cristã.
“Sê uma consciência”, recomendava Edgard Quinet; e Guibert, por sua vez, dizia do jovem: “O combate se trava no centro do seu ser: desta luta íntima, ele é, ao mesmo tempo, a garantia e o campeão… Debalde tentarás guardar aquele moço, que cuidadosamente procurastes conservar, ele vos fugirá, quando quiser… Seu inimigo está dentro dele, na sua imaginação, no seu coração, nos seus sentidos. Eis, por onde ele é atacado, por onde luta, por onde será vencedor ou vencido; eis, onde há de residir e atuar a força de resistência.
Os exércitos exteriormente bem formados, de nada valerão se não houver interiormente, uma vontade poderosa e resoluta que combata e triunfe.
Numa palavra: cada individuo é, com Deus, o autor da sua virtude”. (A Pureza).
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[1] Jesus rogando por seus discípulos, dizia a seu Pai: “Não vos peço os tireis deste mundo, mas que os protejais contra o mal”. (Jo. 17-15).
S. Paulo sentindo o aguilhão da carne e os açoites de Satanás, escrevia:
“Pedi a Deus para que a tentação de mim se afastasse. Deus, porém, respondeu-me: a minha graça te basta”. (2 Cor. 12-8).
O Eclesiástico exalta: “Aquele que foi encontrado sem manchas. Quem, podendo, não transgrediu a lei, podendo praticar o mal, não o praticou”. (Ecl. 31, 18).
Essa citação de 2 CO 12-8 entrou como uma faca de dois gumes!
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