quinta-feira, 23 de outubro de 2014

“Ele faz tudo por mim, mas não quero ficar com ele”

Por Frederico Mattos

Que mulher nunca se envolveu com o cara bonzinho, que fazia tudo por ela, mas que não tirava os pés dela do chão?

Os homens que tem esse perfil não conseguem entender como pode uma mulher recusar tanto amor para ficar nos braços de caras escrotos e cafajestes. Vou tentar explicar qual o problema de ser bonzinho.

Existe uma diferença entre ser bom ou prestativo e ser bonzinho, no primeiro caso é uma escolha consciente, bem pensada, articulada, eletiva e proporcional à necessidade em jogo. Nesse caso é uma ajuda ponderada, cuidadosa que tem por objetivo beneficiar realmente a outra pessoa sem que pra isso exista uma recíproca ou correspondência.

O cara bonzinho oferece uma ajuda exagerada surgida de uma base de carência, fragilidade e necessidade de aprovação recíproca. Ele ajuda acreditando que está desprendido de resultado, quando tem uma demanda gigantesca e reprimida por afeto e atenção exclusiva.

Esse tipo de ajuda tem um afeito duplamente negativo sobre a mulher em questão, pois ela se sente endividada e pressionada com tanta ajuda recebida ao mesmo tempo que não tem espaço para fazer algo espontâneo e agradável como contrapartida. Esse fluxo de ida e volta se torna tão disfuncional que ela passa a ver o cara como alguém aflito por atenção. Esse cuidado todo, aliás, não deixa de ser uma tática, ainda que inconsciente, de aprisionar a outra em favores pessoais.

E como isso afeta o relacionamento? A admiração e o desejo surgem quando alguém nota uma força pessoal associada a segurança e estabilidade, no caso do cara bonzinho isso não existe. Ele se comporta como alguém que não está seguro de si e está passivo diante da vida e dos movimentos de sua parceira. Normalmente ele apenas reage às circunstâncias e age como uma marionete dos caprichos dela, mas com o tempo isso desgasta a confiança mútua e cria ressentimento. No entanto, o cara bonzinho nunca admitirá esse amargor e passará a ter um comportamento veladamente raivoso pressionando cada vez mais, sendo irônico, soltando comentários do tipo “faço tudo por você e não ganho nada com isso”.

O ciclo se fecha a tal ponto que a mulher se sente culpada por não sentir nada por ele, além de ouvir das amigas que ele é o cara perfeito e ela está jogando fora uma oportunidade de ouro. É difícil explicar por que mesmo recebendo tudo isso não parece ser suficiente.

Enquanto esse cara não perceber como está perdido num jogo emocional infantil de agradabilidade excessiva não conseguirá um relacionamento de verdade. Ele tomará um pé na bunda e se convencerá que a mulher não fez por merecer até encontrar outra garota onde o ciclo recomeça com mais intensidade. Para garantir que não será deixado novamente forçará mais a barra convencido de que dando tudo de si poderá garantir o sucesso da relação.

Portanto, até para doar amor é preciso saber o timming certo entre dar e receber, valorizar e ser valorizado para que o amor cresça num ritmo natural e não ansioso e desesperado. É como fazer um bolo, se você abrir o forno antes da hora vai desandar.


7 comentários:

  1. Um texto magnífico e reflete bem a inteligência e ponderabilidade do(s) administrador(es) deste nobilíssimo blog, importante no trato dos cavalheiros restantes nos dias atuais.

    Um grande abraço e votos de continuação de novos artigos.

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  2. Excelente texto! Já passei por isso...!Tive um namorado assim, e ele acabava ficando muito dependente de mim,chato e grudento, mas na verdade o que eu queria mesmo era um homem forte, corajoso e que se ama e se valoriza. Não era o que ele tinha. Quando eu terminei o relacionamento minhas amigas diziam que eu não sabia o que eu estava fazendo. Mas eu sabia, e sei. Um homem que se valoriza e valoriza a mulher faz com que o relacionamento seja feliz e equilibrado.

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  3. "[...]Esse tipo de ajuda tem um afeito duplamente negativo sobre a mulher em questão, pois ela se sente endividada e pressionada com tanta ajuda recebida ao mesmo tempo que não tem espaço para fazer algo espontâneo e agradável como contrapartida. Esse fluxo de ida e volta se torna tão disfuncional que ela passa a ver o cara como alguém aflito por atenção. Esse cuidado todo, aliás, não deixa de ser uma tática, ainda que inconsciente, de aprisionar a outra em favores pessoais."
    É bem verdade que a maioria dos homens que agem assim, não o fazem por mal, todavia, nem só de boas intenções vive um casal. Este sufocamento involuntário faz com que a mulher se sinta culpada e aprisionada e o homem, frustrado e sem compreender porquê não é amado.
    Na verdade, o amor nos propicia grande liberdade inteiror. É imprescindível, antes de levar um relacionamento adiante, pedir a Nosso Senhor que nos ajude em nossas necessidades em relação à afetividade, do contrário, nunca seremos capazes de corresponder ao amor de Deus em nossa vocação, como esposos/noivos/namorados.
    Parabéns pelo textos, cavalheiros!

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  4. Ótimo texto! Eu sempre agi assim com amizades e relacionamentos que tive, mas não fazia por mal, como a maioria dos homens, fazia devido a traumas e carências da infância e nem percebia o erro que estava cometendo, só depois de muitos erros comecei a compreender a fonte da minha carência que só Deus podia preencher.
    Se você mulher tem um namorado assim, antes de decidir terminar o namoro, tente mostrar pra ele o erro que está cometendo, apresente pra ele textos como esse, você pode salvar o seu namoro e o seu homem!

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  5. Existe diferença entre ser cavalheiro para com sua dama e a ser um empregado. Agir com gentileza e zelo não é agir como mordomo. Geralmente, os homens que se comportam assim (do jeito apresentado pelo texto) são inseguros e não conseguem conquistar seus pares com amor e virtudes; então, para compensar essa falta, agem como prestadores de serviços da mulher...

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  6. Excelente artigo. Sugiro a leitura do Livro "No More Mr. Nice Guy" do De. Robert Glover. Ele descreve o que ele chama de "Nice Guy Syndrome": uma condição que leva homens a serem sempre bonzinhos e evitarem conflitos a todo custo.

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